terça-feira, 24 de março de 2009

Despertador

Despertador. Abro os olhos. Desperta dor. Ganho tempo, perco tempo, dou tempo, tempo peço. Corro e nos ponteiros tropeço. Espero. A espera é longa e desespero. Tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac... Dizem que o tempo não para. O tempo devora. Meu tempo apaga. Teu tempo cura e sara. O tempo passa. É simples, passatempo. O futuro é presente, o pretérito imperfeito. Enquanto você marca o tempo, o tempo te marca.

Não tenho tempo.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

para tudo.

para o tempo, relógio quebrado; para a tempestade, guarda-chuva; para o medo, paixão; para a pressa, música; para o sonho, insônia; para a decisão, dúvida; para o presente, futuro; para o futuro, passado; para o passado, presente; para o trabalho, horário; para a rotina, surpresas; para o sol, nuvem; para o silêncio, desespero; para o tédio, poesia; para a escrita, desenho; para a fome, pão; para viagem, telefone; para o vento, abraço; para o beijo, olhar; para a continuidade, surpresa; para a falta de ar, perfume; para a inspiração, estar; para a escrita, ser; para a transformação, correria; para a volta, espera; para ócio, início; para o horóscopo, a realidade; para precisão, intuição; para o sorriso, pranto; para o amargo, doce; para a corrida, encontro; para a busca, acaso; para a distração, versos; para a melancolia, blues; para o mau humor, risos; para a ladeira, freio; para a idéia, janela; para o impossível, destino; para o amor, outro; para a prosa, verso; para a agonia, amnésia; para a satisfação, metade; para a mágoa, culpa; para o fim, boa ideia; para tudo, o acento - que já não sei se é para mim, ou me faz parar.

domingo, 18 de janeiro de 2009

primeiro segundo

envolvendo ou não terceiros, tudo muda em um segundo. não mais que um segundo: a inspiração que faltou a meses, a idéia genial esquecida, a decisão importante, a palavra presa, o ato impensado, o tato pensado, o ônibus passando, o acidente evitável, o erro comum, o acerto incomum. a linha é sempre tênue, e nem sempre se anda na linha. o equilíbrio desequilibra. riso com lágrima nos olhos. choro com sorriso no lábio. um segundo e a chuva cai, o mundo desaba, a ofensiva, o contra-ataque, perde-se tudo, escolhem-se os números, ganha-se o mundo. o para fica parado e perde seu acento, o micro se separa das ondas. eu disse que não mudo. basta um segundo, nem precisa de terceiro, e eu mudo. não gosto desse segundo. prefiro o primeiro.

eu queria ter um homônimo e uns três heterônimos, queria continuar indo ao cinema de manhã uma vez por semana, mas só filmes bons. queria ganhar umas quatro vezes o que eu ganho e queria o loft l-i-n-d-o da buenos aires, queria ter mil idéias geniais todos os dias e esquecer de metade - e quebrar minha cabeça para lembrar, queria também um dia com 48h. provavelmente nas primeiras 336 horas (o equivalente a uma semana nessa escala) eu voltasse a nadar, fizesse yoga, lesse meus livros comprados na empolgação e começasse o meu. eu queria pegar uma mochila e rodar o mundo, mas sei que eu precisaria de umas 8754659 malas. queria conhecer todas as linguas(no sentido de idiomas, é óbvio) do mundo fluentemente. eu queria fazer um roteiro de filme, dizer alguma frase célebre e presenciar um milagre. e o mais importante: queria isso tudo num primeiro segundo.

aqui também. e mais direta e frequentemente :)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

controle remoto

Para ler ouvindo Across The Universe - The Beatles (só clicar)

não, não há nada que de mim me faça ficar diferente. mudo a posição da cama, o estilo de filme, o playlist. mudo a ordem dos livros na estante, por temática, autores e cor, não adianta: minhas reações eu sei de cor. mudo a roupa na hora de sair e o modo de me divertir. não mudei, mas acho que já não fecho os olhos na hora de sorrir. mudo o que vou ler: saio dos contos e arrisco um romance. passo das poesias para as biografias. penso em mudar o mundo e meu mundo não mudou. acendo incenso, mudo a cor das paredes e o lado de dormir. desligo o jazz e coloco rock, mudo os horários, paro de correr. piso só no branco da calçada, sento virada no ônibus, dirijo o carro, piso no preto. ainda igual. mudo o jeito de dançar, mudo o olhar, mudo até de par. nada muda. falo, falo falo. penso. mais emocional. tudo igual. racional? aí é que nada muda. tento fotografia, pinto um quadro, escrevo poesia, falo esperanto. mudo a língua, a trilha sonora, o cenário e a direção. o roteiro continua intacto. mudo de mesa, mudo de lado, mudo a mão. mudo o gosto, o sabor e a bebida. tento nova york, paris, madrid e londres. transformo natal em carnaval, promessas em sonhos e transformo terra em mar. transformar. tomo sol e peço chuva. não carrego guarda-chuva. mudo o horário do banho, a marca do shampoo e o som. nada mudou. mudo a ordem, faço faxina, troco o calendário. mudo o perfume, o travesseiro e o jeito de respirar. mudo de companhias, mudo as marcas e as manias. espero e já canso. não espero mais. espero ajuda dos astros. espero a lua em câncer, vênus em libra e marte em áries. aqui dentro, tá tudo como estava. trocos os fones pelo vinil, o cinza pelo anil. faço uma tatuagem, não pago a passagem, mudo de sala no cinema. reencontro velhos amigos, faço novos amigos. eu não mudo. tento meditação, corrida e violão. dança, coral e estudos literários. tudo em vão.
ah, que vão. apelo e ligo a televisão. mudo o canal. tudo igual.
controle remoto.

domingo, 16 de novembro de 2008

Não tenho tido tempo para romances.

Não tenho tido tempo para romances. Eles mal começam e eu já me canso. Podem ser apresentados por amigos, ou escolhidos à esmo. Eu ali, ele lá. Nós aqui. Confesso que começo sempre cheia de expectativas. 'é legal', dizem uns. 'é a sua cara, você vai adorar', dizem outros. 'putaqueopariu, me achei', penso eu. Logo me envolvo. Quando desenvolvo: já era. Cansei. Não tenho tido paciência para romances.

Não tenho tido paciência para romances. Na falta do meu tempo, ele me espera. Mas eu não me desespero. O próximo passo é quando eu começo a gostar. Logo penso que vou largar amigos, festas e saídas, para ficar trancada em casa com ele em um sábado qualquer. Quando sinto falta, lembro das provas da faculdade e que meu trabalho ocupa todas as minhas tardes. Não tenho tido tempo para romances.

Não tenho tido tempo para romances. Sei que eles vão mudar a minha forma de ocupar as horas vagas e tirar meu sono. Vou trocar meus filmes e músicas por ele. Sei também que vai acabar. E aí? como eu fico? sozinha, é claro. Os romances não estão nem aí quando terminam. Vão para longe e logo estão na mão de outra qualquer. Em uma noite estão ao nosso lado, bem pertinho... nos vendo dormir. Parecem nem ligar quando soltamos deles para tirar um cochilo, ficam ali quietinhos esperando a gente. Acordamos e eles estão ali, quase na mesma posição, só nos esperando. Tão indefesos e submissos, mas vai acabar. E toda essa paciência vai ser de outra pessoa. E eu? Oras, eu Não tenho tido paciência para romances.

Não tenho tido paciência para romances. Alguns deles são tão complicados, outros confusos e tantos outros tão cansativos. Às vezes você tem dois romances por vez. E não é infidelidade. É para equilibrar: um simples, um difícil. Ninguém quer complicações o tempo todo, mas o que é fácil demais também cansa. Eles até parecem entender, ou fingem não ver. Alguns duram meses, outros eu termino em menos de uma semana. Alguns eu acabo antes de chegar ao fim - mas, sim, assumo, às vezes, sem ter o que fazer, acabo pegando novamente. Rápido e prático, porém sem maiores objetivos. Não tenho tido tempo para romances.

Não tenho tido tempo para romances. Não tenho tido paciência para romances. Por isso só tenho lidos contos, crônicas e poesia.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ame o poema.

A base do teto desaba.
Adias a saida
A sua pausa. Erro comum ocorre.
O breve verbo: reviver.
Rir é ferir.
Somávamos.
Sós, reveses e teses. E versos?

A base desatola calotas e desaba.
A nota é átona.
A dose de soda. O nó do dono.
Ato idiota. O ânimo domina-o.
A dica é ácida: AME O POEMA.


Notas de rodapé:

Nota¹ - Um palíndromo é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. Num palíndromo, normalmente são desconsiderados os sinais ortográficos, assim como o espaços entre palavras.

Nota² - Talvez você entenda melhor se ler cada frase do poema ao contrário, ou seja, da direita para a esquerda.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pára escrever de amor.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso eu não escreva. todas aquelas palavras batidas, saindo de rostos abatidos. dos substantivos: devaneios, vestígios, saudade, sonho. tudo ao som de canções, ritmos, música. prefiro os fones de ouvido, talvez por isso eu não escreva. prefiro também a realidade e, embora eu devaneie vezenquando, nunca soube muito bem quando usar essa palavra. partes do corpo não podem faltar, e sempre aquelas mesmas: olhos, sorriso, boca. eu sempre gostei mais de nariz, talvez por isso eu não escreva. perfume, cheiro, suor. me mostre um texto de amor que não tenha uma dessas três palavras, que te mostro alguém que ache beatles uma droga.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso cause problemas. com tantos clichês, assumidos como clichês, como mudar o discurso para o próximo amor? sempre a mesma ladainha de devaneio de saudade ao sentir vestígios do seu cheiro no travesseiro. a saudade sua boca beijando meus olhos ao som daquela canção tão nossa, no ritmo perfeito. um sonho. oras, pro outro amor, basta mudar a ordem. sonhos perfeitos quando sinto seu cheiro no travesseiro. vestígios da saudade que me causa seus olhos na minha boca, me beijando em devaneio no ritmo da nossa canção. tão igual, para pessoas tão diferentes. talvez por isso eu não escreva.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso seja eficiente. escrever de amor consegue o perdão, conquista a paixão. nada como ler aquele poema com seu nome grafado por entre as linhas. eternizado como tatuagem sem, no entanto, marcar eternamente. poema no guardanapo, em caderno na aula, em folha rasgada, com coração ao lado. coração na mão. do outro. não há quem não se entregue a palavras doces. escrever não é necessariamente sentir. ora, tudo pela poesia, dizem os românticos. aqueles que nunca amaram. talvez por isso eu não escreva.

domingo, 5 de outubro de 2008

Descartável

penso, logo hesito.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

café literário

fui a um café com um café mais ou menos, um ambiente legalzinho e um brinde: a cada dez reais, você dava mais quatro e ganhava um livro.
eram quatro opções.

antologia poética do vinicius de moraes era o que eu queria. sonetos, poesias, canções. tinha acabado. estava em falta.

escolhi mau humor, uma antologia definitiva de frases venenosas, do ruy castro. não tinha a autoria dele, eram citações irônicas, críticas e auto-críticas.

de repente tudo se explicou.

o amor em duas palavras.

amortecedor.

eternamente.


é ter na mente, eternamente.
amor tece dor, mas amortece dor.