quarta-feira, 27 de agosto de 2008

só lida.

Solidão não é, necessariamente, estar sozinho. A solidão não vem sozinha. Solidão não é um sofá numa sala escura com uma caneca de café e um livro do caio fernando. Solidão é uma festa escura com uma garrafa de cerveja e um monte de gente rebolando a sua volta. Solidão não é o frio de cachecol. Solidão é o calor quase insuportável das costas expostas. Solidão não é subir a rua imaginando uma solução. Solidão é estar com os amigos e nenhum deles lembrar de pegar na sua mão para atravessar a rua. Solidão não é o silêncio a dois. Solidão é a conversa que não flui, o assunto que acaba. Solidão não é falar do tempo, efêmero ou lento. Solidão é falar do tempo, frio ou quente. Solidão não é um solilóquio. Solidão é um monólogo. Solidão não é um almoço sozinha em algum restaurante lotado. Solidão são os convites sem satisfação. Solidão não é o jazz ou o blues. Solidão é o carnaval, a rave e o bailão. Solidão não é a incerteza das decisões. Solidão é a verdade absoluta, o óbvio, o imutável. Solidão não é something no volume máximo no trajeto de ônibus. Solidão são umas 150 pessoas em um ônibus imenso, todas sem fones e nenhum ruído. Solidão não é baterem o telefone na tua cara. Solidão é o desliga você, amor, quando as duas partes envolvida no relacionamento já são duas partes e não uma. Solidão não é química, física e matemática. Solidão é quando só sobra a história. Solidão não é uma casinha apertada no alto de uma montanha. Solidão é a mansão da cidade grande, da piscina nunca usada. Solidão não é ter mil coisas pra fazer. Solidão é não tem alguém pra te ajudar. Solidão não é não saber. Solidão é ignorar. Solidão não é o choconhaque. Solidão é o martini. Solidão não é permanecer o mesmo. Solidão é mudar mudar mudar, todo dia, toda hora. Solidão não é se enganar com mentiras. Solidão é se iludir com verdades. Solidão não é ter ciúme da ex do seu atual. Solidão é ser sempre odiada pelas atuais. Ser sempre a ex namorada. Solidão não é sair sozinho. Solidão é beijar dez. Solidão não é baixar a cabeça para não ter de conversar. Solidão é falar sem parar. Solidão não é lembrar do passado. Solidão é querer saber do futuro. Solidão não é comprar mais um livro, embora não tenha acabado o que comprou antes. Solidão é comprar roupas que você nunca vai usar. Solidão não é levar um fora. Solidão é ganhar uma rosa ou um abraço de urso - via buddypoke. Solidão não é sentir ciume sozinho. Solidão é o ciume mútuo. Solidão não são as lágrimas. Solidão é o riso eufórico. Solidão não é o parnasianismo. Solidão é o concretismo. Solidão não é um texto seu. Solidão é um poema seu.

Solidão.

lidar
só lidam
só lida

li
da
só lhe dão...
solidão
sólida.

domingo, 10 de agosto de 2008

in-sen-sí-vel.

Embora eu (sobre)viva sob uma armadura - ou mesmo um escafandro, desses que permitem mergulhar fundo, fundo -, não posso admitir que me chamem de insensível. eu sinto. sinto não sentir, sinto sentir, mas nunca, JAMAIS, não sinto sentir. eu sinto. sinto muito. não tenho o lirismo de caio fernando, clarice lispector. não tenho lido sentimentalismos, mas posso dizer que lido com tais. Ao contrário, tenho skiado nas páginas de leminski e bukowski. os loucos incompreendidos. querem sensibilidade assim, descarada ? oras, já é agosto.

tenho tanto o que falar. tanto do ano que se passou desde que "comecei" com essa brincadeira de escrever pra todo mundo ler, tanto do último mês, dos últimos dias, das últimas horas, até dos últimos segundos - que por serem segundos, não são primeiros. Muda. MUDA. já não posto o que escrevo e provavelmente isso só vire post para eu me surpreender comigo mesma. esperar ser surpreendida pelos outros só tem me dado um resultado único e decepcionante: todo mundo é previsível. já calculo cada passo, de cada pessoa. é tudo tão óbvio quanto eu saber que a cada manhã às 6:00 meu despertador vai me acordar ao som de los hermanos, que vou dormir 10 minutinhos a mais, que vou sair de casa em cima da hora e ouvir reclamação da minha mãe pelo horário, que vou ter vontade de passar no mc donalds tomar um café de 400 mL (bendito seja), que vou desistir da idéia para não chegar atrasada na aula. e, depois disso, eu já sinto que vou desistir de todas (ou quase) as boas idéias que tenho. sinto muito.