sábado, 15 de setembro de 2007

Milan(a)

Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entando, mesmo "esboço" não é a palavra certa porque esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço da nossa vida não é o esboço de nada, é um esboço sem quadro.

KUNDERA, Milan. A Insustentável Leveza do Ser.

domingo, 9 de setembro de 2007

Intocáveis

Quarta-feira de manhã. Dia de "não-aula" por tempo indetermidado e falta de professor. É o que eu chamaria de recreio da semana. Acordo mais tarde, me enrolo, tomo banho com calma e música. Uma quarta-feira (quase) normal, se não fosse pelo fato de eu não almoçar em casa (quarta é o único dia que almoço em casa), para pegar uns xerox na Reitoria e encontrá-lo.

Mas, nesse dia aconteceu algo, relativamente insignificante, que me deixou um tanto encucada. Mochila nas costas, fones no ouvido, alguma música boa tocando e eu cantarolando. Manhã quente e ensolarada. O ônibus chegou e para minha tristeza, a bateria do Ipod acabou. 20 minutos sem música, sem companhia. E eu não tirei os fones de ouvido, do ouvido. Deixei ali, sem explicação. Não foi por preguiça, nem pose. Jamais. Só não senti a mínima vontade de tirá-los. Provavelmente ninguém viu que eu tava de fone, ninguém reparou, é algo tão banal. Tampouco alguém, que por ventura tenha visto, suspeitou que não estava tocando música alguma. Mas eu os deixei ali, intactos e intocáveis (em todos os sentidos).

O que me assusta é a possibilidade de levar a vida assim... Com os fones e sem a música. Não sentir a mínima vontade de tirar os fones, todos pensarem que estou ouvindo alguma música boa (mesmo sem cantarolar) e eu estar ali, no silêncio tedioso.
Eu ando cheia das analogias. É muito tempo no banho, ou no silêncio do ônibus. Quartas-feiras são as culpadas?

De qualquer forma, continua sendo meu dia da semana (eu disse se-ma-na, não o final dela) favorito.