quarta-feira, 25 de junho de 2008

Primeiro encontro ideal - Cara Estranho e A Flor

para ler ouvindo Sentimental do Los Hermanos.

dia frio de nariz vermelho, cachecol e da respiração mais forte e dolorosa. a dor aqui não é só pelo frio, ambos estavam frustrados e desacreditados. era um frio interno misturado com o externo naquela combinação que te faz tremer e te aperta, por todos os lados - sem o conforto de um abraço. ela tinha 40 minutos para chegar no trabalho, que era logo ali. ele tinha o mesmo tempo. tiveram também a mesma idéia de entrar em um café do centro da cidade cinzenta. ela achava o lugar bonito e, embora nunca tivesse entrado, sempre tivera uma vontade imensa de conhecer. ele conhecia, mas era um café como outro qualquer (só mais caro e perto, pensava ele).
ela sentou em uma mesa e tirou seu livro recém-começado. "um simples médio com creme, por favor". ele sentou nos bancos do balcão. "um espresso". os olhares enfim se cruzaram e, por mais que pareça idealizado, o tempo parou. tudo parou. eram só os dois. levantou e não precisou pedir, sentou na mesa com ela. ela guardou o livro na mochila - que lhe dava um ar especialmente colegial - e tirou os fones de ouvido que a isolavam do mundo. não queria mais se isolar, queria entrar no mundo do menino que agora estava frente a frente a ela. o menino do sorriso indeciso.

- o que você tava ouvindo?
- los hermanos. de onde vem a calma, sabe?
- ele não sabe ser melhor, viu. canta para mim, qualquer coisa assim sobre você (que explique a minha paz, tristeza nunca mais)
- se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade
- deixa ser como será.
- nesta espera o mundo gira em linhas tortas
- moça, é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê
- você supõe o céu. como pode alguém sonhar o que é impossível saber?
- ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição
- veja você, onde é que o barco foi desaguar...
- veja bem, meu bem. cada dia a mais é um a menos pro encontro acontecer
- talhando feito um artesão, a imagem de um rapaz de bem...


- e você... anda sozinha, me esperando pra dizer coisas de amor

- meu bem, você traz o mundo a meus pés
- és certeza entre o sim e o não
- loucura.
- até amanhã eu vou ficar, e fazer do teu sorriso um abrigo.
- do lado de dentro...
- és de tudo que mais belo existe
- é o mundo que anda hostil, o mundo todo é hostil. ninguém escapa o peso de viver assim...
- prefiro assim com você, juntinho, sem caber de imaginar
- o vento vai dizer...
- deixa o verão pra mais tarde
- enquanto eu penso você sugeriu um bom motivo pra tudo atrasar
- todo mundo sabe, quem te faz chegar mais tarde
- está tarde esta tarde, preciso ir... tenho 10 minutos para chegar no trabalho... adeus você

beijo

- ainda é cedo. eu vou tirar você desse lugar, eu vou levar você pra ficar comigo...
- ninguém dirá que é tarde demais
- tô voltando, não sei quando, pra roubar teu coração.
- nada vai mudar entre nós. já não vejo motivos. a gente é quem sabe, pequeno.


brilho nos olhos e nos sorrisos largos. o não amar é que é loucura.
toca o interfone do trabalho. ela atende. "tem algo aqui pra você".
um bilhete: "olha as flores que eu trouxe pra você, amor. são pra comemorar aquele dia que passei a viver do teu lado. te busco para ver deitar o sol." e algumas flores da rua junto com tulipa mais bonita que ela havia visto em toda a vida.

ela, que não ligava para flores, sorriu em paz. "ele é mais sentimental que eu"...

domingo, 22 de junho de 2008

o que dizem os "não posts"

final de junho e só agora estou aqui. embora eu continue relutando para não me manifestar, aos mais atentos não é difícil perceber que o silêncio diz bem mais que os um milhão de posts que ficaram guardados nos tubos de ônibus e de shampoo. no banco das praças e nas xícaras de café. foram tantas boas idéias, mas o silêncio consegue falar mais alto. ele grita. meu silêncio jogou na minha cara a minha dificuldade em lidar com frustrações comigo mesma. o quanto não sei lidar com as minhas inseguranças e as minhas falhas. o quanto persistir no erro me dói, quase como um soco. o silêncio me contou também o quanto não gosto de falar da minha vida pessoal, prefiro aguentar sozinha. odeio desaprovações e conselhos não pedidos. me jogou na cara também minha idéia de auto-suficiência (?!). ora me provando que é sólida, ora que é gasosa... daquela que se espalha no ar e some com um sopro leve. o silêncio me convenceu também que o que eu quero/espero não existe. finalmente decidi por um caminho, vou começar a escrever ficção.