sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pára escrever de amor.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso eu não escreva. todas aquelas palavras batidas, saindo de rostos abatidos. dos substantivos: devaneios, vestígios, saudade, sonho. tudo ao som de canções, ritmos, música. prefiro os fones de ouvido, talvez por isso eu não escreva. prefiro também a realidade e, embora eu devaneie vezenquando, nunca soube muito bem quando usar essa palavra. partes do corpo não podem faltar, e sempre aquelas mesmas: olhos, sorriso, boca. eu sempre gostei mais de nariz, talvez por isso eu não escreva. perfume, cheiro, suor. me mostre um texto de amor que não tenha uma dessas três palavras, que te mostro alguém que ache beatles uma droga.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso cause problemas. com tantos clichês, assumidos como clichês, como mudar o discurso para o próximo amor? sempre a mesma ladainha de devaneio de saudade ao sentir vestígios do seu cheiro no travesseiro. a saudade sua boca beijando meus olhos ao som daquela canção tão nossa, no ritmo perfeito. um sonho. oras, pro outro amor, basta mudar a ordem. sonhos perfeitos quando sinto seu cheiro no travesseiro. vestígios da saudade que me causa seus olhos na minha boca, me beijando em devaneio no ritmo da nossa canção. tão igual, para pessoas tão diferentes. talvez por isso eu não escreva.

escrever de amor deve ser bem fácil, talvez por isso seja eficiente. escrever de amor consegue o perdão, conquista a paixão. nada como ler aquele poema com seu nome grafado por entre as linhas. eternizado como tatuagem sem, no entanto, marcar eternamente. poema no guardanapo, em caderno na aula, em folha rasgada, com coração ao lado. coração na mão. do outro. não há quem não se entregue a palavras doces. escrever não é necessariamente sentir. ora, tudo pela poesia, dizem os românticos. aqueles que nunca amaram. talvez por isso eu não escreva.